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             Empresários querem biodiversidade como parte de seus negócios 
 
            Um mapeamento feito  em quatro países da América Latina mostra, pela primeira vez, como as empresas  dos setores de cosméticos, fármacos e alimentos percebem a importância da  biodiversidade para seus negócios. O estudo identifica oportunidades para  promover o uso sustentável da biodiversidade como fonte de inovação e  abastecimento no Brasil, Colômbia, Bolívia e Peru. O estudo conduzido pela  União para o BioComércio Ético – UEBT, a pedido da International Finance Corporation – IFC ouviu cerca de 300  empresários nos quatro países. Os dados foram apresentados em São Paulo durante  um seminário realizado em parceria com o Centro de Estudos em Sustentabilidade  da Fundação Getúlio Vargas – GVCes. 
               
              De acordo com a pesquisa, 70% dos empresários afirmaram que a biodiversidade é  importante para seus negócios, com destaque para os bolivianos e brasileiros  com 85% e 80%, respectivamente. E mais de 94% dos entrevistados no Brasil,  Colômbia e Peru disseram que o interesse por ingredientes naturais deve  aumentar nos próximos 10 anos. A maior parte das empresas nos países estudados  (80%) aposta nos ingredientes naturais como fonte de inovação tecnológica para  seus produtos. 
   
              A maioria das empresas considera qualidade, responsabilidade social, cuidado  com a imagem e conservação do meio ambiente como os mais importantes para a  sustentabilidade das operações em suas companhias.  
   
              Megadiversos – “Os países analisados  formam o grupo dos megadiversos, que abrigam a maior parte das plantas, animais  e microrganismos do planeta”, comenta Cristiane de Moraes, representante da  UEBT na América Latina. Segundo ela, o capital natural desses países é capaz de  alavancar de modo considerável suas economias.  
   
              No mapeamento, os empresários brasileiros destacaram-se entre os vizinhos latino-americanos  na corrida em direção aos recursos naturais. Aqui, a biodiversidade está no  radar, principalmente do setor de cosméticos, um dos que mais crescem no mundo,  ficando atrás apenas dos Estados Unidos e do Japão. Em algumas regiões da  Amazônia, empresas líderes do setor já trabalham junto com ONGs ambientalistas em  protocolos de comércio com as comunidades locais de modo a repartir com elas os  benefícios obtidos pelo uso biodiversidade.  
   
              O mapeamento da UEBT indica também que os empresários no Brasil buscam  segurança jurídica para trabalhar. Prova disso é que indústrias que têm na  biodiversidade uma fonte de insumos uniram-se na defesa das Metas Nacionais da  Biodiversidade para 2020, estabelecidas pela Convenção da Biodiversidade da ONU  – CDB. “A indústria farmacêutica no Brasil está conseguindo acelerar a regulamentação  dos fitoterápicos. Da mesma forma graças a pressão de entidades empresariais, a  lei de acesso ao patrimônio genético passa por reformulação e deve destravar  mecanismos que ainda emperram a pesquisa para fins industriais”, destaca  Cristiane de Moraes.  
   
              Segundo ela, há forte mobilização das empresas para tratar temas comuns  relacionados à biodiversidade, seja através de associações de classe ou de  movimentos empresariais. “Estas articulações proporcionam um canal valioso de  diálogo com atores importantes como é o caso do governo”, comenta a  representante da UEBT. A inovação das empresas brasileiras, aponta a pesquisa,  vai além dos produtos, muitas vezes está na forma com que elas executam seus  projetos.  
   
              Legislação – Nos demais países mapeados pela UEBT, a situação é bastante  marcada pela falta de marcos regulatórios. E este é o maior empecilho para a  atuação das empresas no acesso à biodiversidade. No Peru, por exemplo, o  registro de produtos que contêm ingredientes naturais é bastante burocrático, com  regras pouco claras. Até mesmo a regulamentação sanitária é deficiente e trava  o avanço industrial. Com isso, o país perde nas exportações, mesmo tendo  produtos de excelência.  
   
              A Bolívia também deixa de faturar para sua economia, que importa quase tudo o  que consome em termos de cosméticos e fármacos, mesmo tendo um manancial  disponível em sua megabiodiversidade. Mas a diversidade biológica do território  boliviano nem sequer foi estudada e o potencial segue adormecido. Para  dificultar, faltam leis e regulamentos para que a indústria explore a natureza  em busca de matéria prima, aponta o mapeamento da UEBT. 
   
              Em relação à Colômbia, o estudo destaca que a demanda de mercado por produtos  alimentícios mais saudáveis poderia alavancar a economia do país. Com cadeias  produtivas organizadas para as culturas de café, cacau e palma, a indústria  colombiana só não desenvolve mais porque encontra limitações na teia da  legislação. A produção de cosméticos a partir da biodiversidade nativa é  identificada no mapeamento como um dos potenciais econômicos na Colômbia. Sobra  matéria prima no país, mas faltam investimentos em pesquisa e inovação para  abastecer a indústria, reclamam os empresários.  
   
              Oportunidades – O mapeamento da UEBT  também apurou oportunidades e desafios para os empresários dos quatro países.  Foram organizados por segmento. Para o setor de alimentos, o documento reforça  a tendência por produtos saudáveis, com apelos diferenciados para o consumidor,  que tende a ser cada vez mais crítico em relação às empresas. Os selos  ambientais, sociais, orgânicos, de comércio justo são cada vez mais  reconhecidos e considerados pelo consumidor desses países na hora da compra. O  desafio é aprofundar a agenda da biodiversidade entre os empresários e  estimular a busca pelos ingredientes naturais. 
   
              O setor de cosméticos – e o Brasil é um exemplo – já entendeu que a tendência  são os ingredientes que vêm da natureza: óleos, extrato, aromas. E sabe também  que eles são fonte de inovação tecnológica. O estudo revelou ainda um desejo crescente  pela “vegetalização” das fórmulas dos cosméticos. O desafio – para todos – é  garantir legalidade para acessar os recursos naturais. 
   
              No setor de fármacos, além da demanda por segurança jurídica, os empresários  ouvidos durante a pesquisa querem estabelecer rapidamente parcerias  público-privadas para pesquisa e desenvolvimento de ingredientes naturais. Com  pesquisa, será mais fácil atestar a eficácia de ingredientes naturais,  aumentando a prescrição de fitoterápicos. Além disso, a diminuição do número de  moléculas com patentes liberadas para a produção liberadas para a produção de  genéricos faz com que as empresas busquem alternativas para a manutenção da  receita, proporcionando um olhar para os naturais. 
  
             Fonte: Portal R7 
              
               
              
              
              
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