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Edição 14 - 27 de agosto
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Empresários querem biodiversidade como parte de seus negócios

Um mapeamento feito em quatro países da América Latina mostra, pela primeira vez, como as empresas dos setores de cosméticos, fármacos e alimentos percebem a importância da biodiversidade para seus negócios. O estudo identifica oportunidades para promover o uso sustentável da biodiversidade como fonte de inovação e abastecimento no Brasil, Colômbia, Bolívia e Peru. O estudo conduzido pela União para o BioComércio Ético – UEBT, a pedido da International Finance Corporation – IFC ouviu cerca de 300 empresários nos quatro países. Os dados foram apresentados em São Paulo durante um seminário realizado em parceria com o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas – GVCes.

De acordo com a pesquisa, 70% dos empresários afirmaram que a biodiversidade é importante para seus negócios, com destaque para os bolivianos e brasileiros com 85% e 80%, respectivamente. E mais de 94% dos entrevistados no Brasil, Colômbia e Peru disseram que o interesse por ingredientes naturais deve aumentar nos próximos 10 anos. A maior parte das empresas nos países estudados (80%) aposta nos ingredientes naturais como fonte de inovação tecnológica para seus produtos.

A maioria das empresas considera qualidade, responsabilidade social, cuidado com a imagem e conservação do meio ambiente como os mais importantes para a sustentabilidade das operações em suas companhias.

Megadiversos – “Os países analisados formam o grupo dos megadiversos, que abrigam a maior parte das plantas, animais e microrganismos do planeta”, comenta Cristiane de Moraes, representante da UEBT na América Latina. Segundo ela, o capital natural desses países é capaz de alavancar de modo considerável suas economias.

No mapeamento, os empresários brasileiros destacaram-se entre os vizinhos latino-americanos na corrida em direção aos recursos naturais. Aqui, a biodiversidade está no radar, principalmente do setor de cosméticos, um dos que mais crescem no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e do Japão. Em algumas regiões da Amazônia, empresas líderes do setor já trabalham junto com ONGs ambientalistas em protocolos de comércio com as comunidades locais de modo a repartir com elas os benefícios obtidos pelo uso biodiversidade.

O mapeamento da UEBT indica também que os empresários no Brasil buscam segurança jurídica para trabalhar. Prova disso é que indústrias que têm na biodiversidade uma fonte de insumos uniram-se na defesa das Metas Nacionais da Biodiversidade para 2020, estabelecidas pela Convenção da Biodiversidade da ONU – CDB. “A indústria farmacêutica no Brasil está conseguindo acelerar a regulamentação dos fitoterápicos. Da mesma forma graças a pressão de entidades empresariais, a lei de acesso ao patrimônio genético passa por reformulação e deve destravar mecanismos que ainda emperram a pesquisa para fins industriais”, destaca Cristiane de Moraes.

Segundo ela, há forte mobilização das empresas para tratar temas comuns relacionados à biodiversidade, seja através de associações de classe ou de movimentos empresariais. “Estas articulações proporcionam um canal valioso de diálogo com atores importantes como é o caso do governo”, comenta a representante da UEBT. A inovação das empresas brasileiras, aponta a pesquisa, vai além dos produtos, muitas vezes está na forma com que elas executam seus projetos.

Legislação – Nos demais países mapeados pela UEBT, a situação é bastante marcada pela falta de marcos regulatórios. E este é o maior empecilho para a atuação das empresas no acesso à biodiversidade. No Peru, por exemplo, o registro de produtos que contêm ingredientes naturais é bastante burocrático, com regras pouco claras. Até mesmo a regulamentação sanitária é deficiente e trava o avanço industrial. Com isso, o país perde nas exportações, mesmo tendo produtos de excelência.

A Bolívia também deixa de faturar para sua economia, que importa quase tudo o que consome em termos de cosméticos e fármacos, mesmo tendo um manancial disponível em sua megabiodiversidade. Mas a diversidade biológica do território boliviano nem sequer foi estudada e o potencial segue adormecido. Para dificultar, faltam leis e regulamentos para que a indústria explore a natureza em busca de matéria prima, aponta o mapeamento da UEBT.

Em relação à Colômbia, o estudo destaca que a demanda de mercado por produtos alimentícios mais saudáveis poderia alavancar a economia do país. Com cadeias produtivas organizadas para as culturas de café, cacau e palma, a indústria colombiana só não desenvolve mais porque encontra limitações na teia da legislação. A produção de cosméticos a partir da biodiversidade nativa é identificada no mapeamento como um dos potenciais econômicos na Colômbia. Sobra matéria prima no país, mas faltam investimentos em pesquisa e inovação para abastecer a indústria, reclamam os empresários.

Oportunidades – O mapeamento da UEBT também apurou oportunidades e desafios para os empresários dos quatro países. Foram organizados por segmento. Para o setor de alimentos, o documento reforça a tendência por produtos saudáveis, com apelos diferenciados para o consumidor, que tende a ser cada vez mais crítico em relação às empresas. Os selos ambientais, sociais, orgânicos, de comércio justo são cada vez mais reconhecidos e considerados pelo consumidor desses países na hora da compra. O desafio é aprofundar a agenda da biodiversidade entre os empresários e estimular a busca pelos ingredientes naturais.

O setor de cosméticos – e o Brasil é um exemplo – já entendeu que a tendência são os ingredientes que vêm da natureza: óleos, extrato, aromas. E sabe também que eles são fonte de inovação tecnológica. O estudo revelou ainda um desejo crescente pela “vegetalização” das fórmulas dos cosméticos. O desafio – para todos – é garantir legalidade para acessar os recursos naturais.

No setor de fármacos, além da demanda por segurança jurídica, os empresários ouvidos durante a pesquisa querem estabelecer rapidamente parcerias público-privadas para pesquisa e desenvolvimento de ingredientes naturais. Com pesquisa, será mais fácil atestar a eficácia de ingredientes naturais, aumentando a prescrição de fitoterápicos. Além disso, a diminuição do número de moléculas com patentes liberadas para a produção liberadas para a produção de genéricos faz com que as empresas busquem alternativas para a manutenção da receita, proporcionando um olhar para os naturais.

 

Fonte: Portal R7

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