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Edição 20 - 19 de novembro
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Eliane Kihara

 

 

Entrevista: Desafios para o desenvolvimento de produtos inovadores

 

O cenário para o mercado farmacêutico nacional promete continuar favorável – para este ano, a estimativa do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma) é de que o crescimento fique em torno de 12%. Nas projeções internacionais da consultoria IMS Health para os próximos anos, o mercado farmacêutico brasileiro cresce a taxas superiores a da China, devendo atingir a quarta posição entre os maiores mercados do mundo. Apesar dos avanços nas últimas décadas, as indústrias farmacêuticas e farmoquímicas do País ainda possuem muitas barreiras a transpassar se quiserem chegar num cenário considerado ideal para o Brasil.


Para falar sobre o tema, a FCE Pharma News entrevistou Eliane Kihara, sócia da consultoria PwC Brasil.


FCE Pharma News: Quais são os principais desafios que a indústria enfrenta para desenvolver produtos inovadores?

 

Eliane Kihara: Pesquisa clínica. Temos dificuldades com o prazo de aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) para os estudos clínicos. Em outros países os estudos são aprovados em três meses - nos Estados Unidos, Canadá e na França, o prazo é de três a quatro meses; na Argentina é de aproximadamente seis meses. No Brasil, a média é de um ano e meio. Quando falamos em patentes, a análise no Brasil demora de nove a 14 anos, enquanto a média global é de cinco anos. Também enfrentamos altos custos de pesquisa e pouca experiência na área de inovação tecnológica.

 

FCE Pharma News: A falta de mão de obra qualificada também pode ser considerada um desafio para a inovação?

 

Eliane: Sim. Além da falta de mão de obra, temos também a dificuldade em reter talentos. Em um recente estudo feito pela PwC, a mão de obra foi levantada como um fator desafiador para inovação. No estudo "Managing Innovation in Pharma", boa parte dos respondentes (59%) disseram que "Encontrar e reter os melhores talentos para inovar" é um aspecto desafiador. Foi a maior porcentagem encontrada em relação a outros aspectos levantados.


FCE Pharma News: O que as indústrias farmacêuticas precisam fazer para se tornarem mais competitivas?


Eliane: O relatório "Managing Innovation in Pharma" sugere que o ideal é criar parcerias. Uma das ideias sugeridas é deixar a inovação aberta, para que grupos de fora da indústria possam compartilhar suas ideias. A Eli Lilly, por exemplo, possui a plataforma Eli Lilly's Open Innovation Drug Discovery, na qual compartilha dados com pesquisadores, buscando aqueles que estejam dispostos a testar os seus componentes. De acordo com a empresa, mais de 360 universidades, institutos de pesquisa e pequenas empresas de biotecnologia, de 34 países, são afiliados ao programa. As parcerias são essenciais e podem ser feitas para desenvolver em conjunto uma nova molécula, acordos de licenciamento, investimento em start-ups que exploram novas ideias terapêuticas, ou ao trabalhar em conjunto com outros participantes da cadeia da saúde.

 

FCE Pharma News: Qual sua avaliação sobre os programas de incentivo à inovação criados pelo governo?

 

Eliane: São importantes para melhorar o acesso da população aos medicamentos, além de contribuir para a diminuição do déficit comercial. Até agora já temos mais de 100 PDPs (Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo).

 

FCE Pharma News: A senhora acredita que o Brasil está perdendo a chance de competir no mercado de medicamentos biotecnológicos?

 

Eliane: Acredito que não. Os investimentos da indústria nacional na produção de biossimilares são altos. Tivemos a formação da Orygin e da Bionovis, e a Libbs e Cristália estão investindo por conta própria nesse nicho. Com auxílio do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), essas indústrias irão investir quase R$1,5 bilhão.

 

FCE Pharma News: Como a indústria brasileira pode superar a inexperiência no desenvolvimento e produção de medicamentos inovadores?

 

Eliane: O Brasil poderia se beneficiar trazendo estudos clínicos para o país. Temos uma população extensa e diversificada, temos um sistema público de saúde - que pode facilitar o recrutamento do paciente e seu acompanhamento - e também temos alta incidência das doenças mais prevalentes nos países desenvolvidos. Além desses fatores, nossas normas éticas de pesquisa são compatíveis com as de outros países. Em minha opinião, ainda existe um espaço a ser explorado para aproximar as universidades e a indústria.

 

FCE Pharma News: A senhora acredita que existe uma falta de entendimento entre a indústria e o meio acadêmico no que diz respeito à pesquisa de novos fármacos?

 

Eliane: Pode existir. Existem vários programas governamentais que incentivam a pesquisa e desenvolvimento; alguns, inclusive, que não requerem uma contrapartida. Porém, não necessariamente financiam a capacidade comercial e de gestão das empresas, o que pode resultar em empresas investirem em inovação sem fins comerciais.


Estudos citados:
Managing innovation in Pharma: http://www.pwc.com/en_GX/gx/pharma-life-sciences/assets/pwc-managing-innovation-pharma.pdf
Global CEO Survey - Pharmaceuticals and Life Sciences Industry: http://www.pwc.com/gx/en/ceo-survey/2014/assets/pwc-17th-annual-global-ceo-survey-pharmaceuticals-and-life-sciences-key-findings.pdf
Sobre a questão do tempo de aprovação das pesquisas clinicas:
http://www.thesptimes.com.br/sp/pesquisa-clinica-no-brasil-um-grande-desafio/)

 

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